segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Diálogos surtados - Marcus Gavius Apicius


FG – Caro Mestre, são três os Apicius, todos considerados grandes gourmets... Como é isso?
A – Bem... Seria demais dizer que somos a mesma pessoa - em três diferentes encarnações?
FG - (Espantado!) - Como assim?
A – Sim... O primeiro viveu no primeiro século antes de Cristo, à época de Sylla, o terceiro no império de Trajano. O segundo, eu próprio, Marcus Gavius Apicius, vivi à época de Augusto e de Tibério...
FG – E de Plínio e Sêneca...
A - Que falavam coisas horríveis a meu respeito... Diziam que eu pervertia os jovens com meus maravilhosos banquetes... Imagina! Eu lhes proporcionava o prazer de comer o que havia de melhor, com requintes até então jamais sonhados, e aqueles moralistas fofoqueiros vinham ao Capitólio encher as cabeças dos cidadãos romanos. Criei até uma escola de culinária totalmente inspirada na Grécia. O que era apenas uma função de escravos passou a ser um prazer para as damas romanas. Os cozinheiros escravos ensinavam às matronas sua sabedoria culinária e eram regiamente pagos para isso...
FG – Sem dúvidas, uma revolução sócio-cultural...
A – Tudo o que eu fazia à época era revolucionário... Usava, muitas vezes, como base de minhas receitas um caldo de peixe fermentado com água salgada chamado Garum (ainda hoje na comida vietnamita existe um molho como esse, feito com anchovas, denominado Nuoc-nam). Utilizava também o Levístico – impossível de ser encontrada no mercado hoje em dia – uma planta que tem um sabor entre o aipo e a salsinha... Engordei gansos até seus fígados incharem e daí retirava o melhor foie Gras . Fiz experiências com joelho de camelo, crista de galo, língua de pavão e de rouxinol...
FG – O senhor nos deixou um livro de receitas...
A – Entre todos os que escrevi (alguns dizem que foi o Coelius Apicius, o terceiro. Enfim...Como todos somos um só...) restaram o De Re Cuquinaria (quer dizer Sobre Culinária, denominado por alguns com a corruptela de Reculinária) que foi compilado no quarto século – Martim Lister produziu uma edição com o título de Obsonus et Condimentis Sive de Arte Coquinaria em 1705, com tiragem de 125 exemplares - Meu Re Cuquinaria foi impresso pela primeira vez em Milão em 1498 e contém um conjunto de quatrocentas e sessenta e oito receitas, onde foi assimilado, também, meu livro só de molhos: De condituris... Coelius descobriu um método de conservar ostras frescas, porém nunca o difundiu... Pena!
FG – Porque, afinal, o senhor decidiu deixar este maravilhoso mundo em que vivia, onde era decantado por Juvenal em seus poemas satíricos...
A - ...E perseguido por Sêneca - o chato, e Plínio - o preconceituoso... Gastei fortunas dando banquetes e alegrando a vida monótona dos romanos - que já haviam enjoado de ver cristãos serem devorados por leões... - Um dia resolvo contar meus sestércios e me apavoro! Não daria mais para prosseguir com aquele fausto que, afinal, era minha razão de viver... Entrei para a história com um final de tragédia grega - cultura que tanto admiro...
FG – O papo está maravilhoso, porém poderíamos continuá-lo no “VERNISSAGE”. Entre belas obras de arte e uma fantástica natureza, o senhor poderá degustar criativos pratos vindos de um cardápio super variado e com vinhos de adega climatizada e com excelente custo-benefício...
A – Ótima idéia... Há muito venho querendo experimentar o “O Arroz de Polvo ao Vinho Tinto” e o “Camarão na Moranga aos Quatro Queijos ”... Agora, o “Crepe de Bacalhau””...
FG – De sobremesa o senhor deveria experimentar o sucesso maior da casa: o “Mineiro com Botas”, feito à maneira do “VERNISSAGE”, com criatividade, capricho e carinho...
A – Meus deuses! Vamos logo!

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